segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A cada manhã me sinto mais encorajada a defender somente as melhores coisas, aquelas tantas frequentemente caluniadas pelos incautos e propagadores de convenientes mentiras.

São esses os mesmos que empurram para debaixo do tapete as hipocrisias do ser humano só para salvar a sua pele do julgamento que mancha seu vestido cinza, disfarçado de branco.

Esse humano, tão desencontrado em si, que ousa supor que conhece qualquer verdade, que se deixa invadir pela vaidade de acreditar que tenha encontrado algum caminho que o afaste definitivamente da angústia e da solidão, renegando a sua própria natureza.  

Tão inocente, sempre a procura daquilo que jamais vai encontrar, porque procura no lugar errado, que é fora de si mesmo.

Tão iludido esse desencontrado, que pensa que ainda pode propagar mensagens absolutas, que ele mesmo fez tornarem-se assim e agora quer que tais sejam também as dos outros, para não se sentir tão solitário em sua crença. E é verdade, ele precisa crer, e isso somente porque nada mais lhe resta nessa vida que faça qualquer sentido ou pelo que valha a pena lutar. 

A cada manhã me sinto mais encorajada a arrebentar as amarras do meu corpo e arrancar da mente as vis armadilhas que foram plantadas no meu espírito e que quase inutilizaram a minha alma e tornaram estéreis os meus pensamentos.

A cada dia tudo o que eu almejo é me sentar na escola das suspeitas, porque só nela aprendo alguma coisa e não me assento ao lado de certezas, nem vou com elas para o meu recreio, nem perco tempo com seus jogos e blefes.

A cada dia ouso supor que esse meu caminho por mim escolhido pode me tornar mais livre como um espírito que não tem roupa e não precisa de morada. Um espírito que traça sua própria trajetória, seu código e sua própria moral. A ética pura, que não precisa de divindades para ser validada, porque é bastante em si. Nasce daqui de dentro e não me foi ditada por ninguém de fora.

A cada dia penso nesta vida presente como a mensagem única e verdadeira se estou vivendo e respirando agora. Só quem vive uma infelicidade cortante no agora pode se alegrar por divulgar que a vida após a morte te aguarda com maiores alegrias, motivo que justifica desprezarmos a vida que temos agora. Quem vive bem a vida como uma dádiva, não tem prazer em deixar esse mundo e nem precisa se lastimar por viver nele. E essa é a vida que eu quero viver: a que não me faça almejar mais nada no porvir, ainda que haja o  porvir. Essa é a vida que temos agora, então, ela é a vida verdadeira. O resto é consolo, fuga e desespero. Cada coisa a seu tempo.     

A cada dia me sinto mais encorajada a caminhar como uma sombra de uma eremita de beira de estrada, sempre a procura de uma carona nos caros automóveis da racionalidade e sempre acompanhada de motoristas eremitas como eu.

A cada dia me sinto mais encorajada a dar vazão a poucas emoções, somente aquelas tão irresistíveis porque necessárias para se fazer história e indispensáveis para as transformações. Porque de emoções o tolo está repleto e nelas vagueia como um bicho cego, que cria contos e fantasias para encurtar a dor do que é real, ao invés de utilizar sua inteligência para tornar o mundo um lugar melhor na realidade, e não na fantasia.

A cada dia sinto mais coragem para lutar por minha liberdade, aquela mesma que nasceu comigo e que não sai de mim e que eu não vendo e nem negocio com instituições, tampouco a aprisiono a criações dos desencontrados, nem me envergonho dela, nem comento aonde ela anda, nem conto a ninguém seu endereço, porque só a mim ela recebe em sua casa e aqueles que por mim são convidados.       
Tenho medos que não posso controlar. Outros que jamais poderei vencer. Mas nenhum deles é maior do que o medo que tenho da ignorância. A ignorância cega, destrói, aniquila, mata, afasta, exclui, desarmoniza, castra, oprime, submete. Por causa dela, muitas vidas foram perdidas, muitas almas foram abatidas, inúmeras injustiças foram aceitas e muitos impiedosos foram tratados comos reis.
Por mais extrema que pareça uma fase difícil, se ela está sendo vivida, acabará  se tornando parte indispensável de um processo de crescimento e amadurecimento. Durará o tempo que for necessário e só quem a vivencia saberá a importância dela ao final.
A nossa mente não alcança os mistérios da roda da vida. Podemos chegar a lugares que queríamos por caminhos que jamais imaginávamos que trilharíamos. E podemos chegar a lugares que nossa mente nunca foi sequer capaz de imaginar. Uma das maravilhas de viver consiste nessas fabulosas surpresas. Preparar roteiros talvez não nos sirva da muita coisa. Os saltos, os giros e as voltas que o mundo dá revelam a magia que não está nas regras: a magia do imprevisível!