quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Justiça social: será possível? Do lado do meu prédio há um terreno baldio onde será construído outro prédio. Enquanto isso, encostado na parede do bloco, mora um senhor de meia idade em uma tenda de camping azul, pequena, na qual só cabe uma pessoa. Todos os dias, quando chego do trabalho, olho para aquela tenda e, muitas vezes, vejo o homem saíndo de dentro dela carregando um prato de comida. Sujo, despenteado, solitário, abandonado. Ninguém percebeu que ele está por ali. Ou se percebeu, nem notou que se trata de outro ser humano igual, nosso semelhante.
Olho para ele e fico pensando comigo: quem será esse homem? Qual será sua estória? Porque eu tenho uma cama confortável, comida boa, banho quente e ele não? Aonde estaria a justiça divina? E a justiça social, será possível? Distribuir? O que fiz para merecer ou o que ele fez ou deixou de fazer para não merecer? Respostas que eu não tenho. Ninguém as tem. Eu me angustio. As respostas a estas perguntas eu gostaria de ter neste exato momento. Gostaria de saber porque pessoas passam fome, enquanto eu posso comer.
Será possível que algum dia nada falte a ser humano algum nesta terra? Deveria ser assim, não é? Eu gostaria que fosse. Mas almejar não é o bastante.
Enquanto chove e eu tento dormir, me angustia a idéia de a chuva forte destruir a barraca azul, sua única casa. Imagino o frio que está fazendo lá fora e me desespero. Sei que ele não é o único e milhões de pessoas em todos os lugares do mundo estão vivendo em condições ainda mais miseráveis.
O que posso fazer além de refletir? De que vale divagar sem ação? Este homem é alguém com sentimentos, com passado, com sonhos, idéias. É alguém como eu, simplesmente como eu, humano. Alguém que talvez esteja tão perdido que não sabe nem por onde começar para mudar de vida. Quanto desamparo. Me dói. Eu gostaria de achar uma saída para o mundo. Pensar não basta. Pensar é muito pouco.