domingo, 16 de janeiro de 2011

Posso me sentir revoltada sem deixar que a revolta me consuma. Mas se me consumir, vou deixar que queime até a última labareda. Esta é a única maneira de haver uma cura. Eu sou assim: extrema. E no contexto posso dizer: sim, estou revoltada. E muito. Acordei desta forma hoje, depois de lastimar quase exatas 216 horas remoendo angústias justificadas e insanas. Agora, vou deixar que a chama me consuma por completo para que eu tenha uma chance mínima de me conformar. Nasci para a ação. E como me dói e me dilacera estar frente a uma situação acerca da qual, sob todo o qualquer ponto de vista, não há absolutamente nada que eu possa fazer sem manchar de preto e cinza uma atmosfera calma e serena. E eu não vou assaltar a paz alheia, porque em toda a minha aparente loucura, tenho a sanidade num pedestal sagrado.

A impotência...

Estou impotente. Meu Deus, estou impotente dessa vez como nunca antes...Destaque para isso. Porque esta é a única coisa que tem o poder de me matar. Sentir-se impotente é o fim da paz de espírito para alguém que se sente tão livre como eu. E, desta vez, absolutamente nada posso fazer. Nada posso tocar. Nada posso ser. Nada posso dizer. Nada posso escutar. Nada posso querer. Nada posso tentar. Nada, nada, nada.

Um pensamento e um sentimento. Primeiro, uma vertigem que absorve a racionalidade. Depois, um susto que te enfrenta como uma rocha e esmaga o corpo. Depois, um ímpeto de agitação crônico, que te desperta da morte e manipula idéias na mente. Depois, outro susto ainda maior, como uma agulha enfiada embaixo da unha, que te faz enxergar a única verdade que existe. E, na sequência, vem uma espécie de  loucura. E ela nunca vem sozinha. Traz qualquer tipo de morte consigo. Pensei, naquele instante, que morreria ali, olhando aquele sorriso e ouvindo aquela voz.

Peguei o carro e não sabia mais para onde ir. A incongruência entre a Liberdade Nata e a Prisão Eleita desnortearam meus sentidos. Eu, extremamente livre, ao lado de um Castelo Forte, cercado de soldados à porta e fortalezas da mente. E eu, em minha franca liberdade, morri aos pés de uma cruz e recebi de presente alguma espécie de chaga, que agora está gravada em minha mente como um traço de insanidade.

Tive um pesadelo. Um pesadelo recheado de edemas, marcas e cárceres. Tragédia. Uma dor aguda. Acordei dormente e bebi um copo de água. E é apenas isto que posso fazer. Esperar que passe a revolta. E tentar beber um pouco da Água da Vida. Mais revolta. E o conjunto da obra é a minha revolta maior, que se apresenta como a mais extrema de todas as punições: a minha maior fraqueza. Revolta. E o meu sentimento de impotência não cabe mais em mim...

Mas a cura virá. Sempre vem. Porque eu só sou humana e, nesta condição, como todo e qualquer outro ser humano, luto contra mim mesma. Me mantenho sã e lúcida, apesar de tudo. Mas hoje, apenas hoje, a revolta me consumiu. Vou deixar que ela queime até o fim...Até que não sobre mais nada...Só assim é possível recobrar o equilíbrio.