Os pés numa rocha. Agora sim, pareço comigo. Lastimo sempre que saio de mim. Quem não sai? Humanos, demasiado humanos, diria Meu Preferido.
Devaneios, uma noite sem dormir; outro devaneio, um desacerto interno qualquer, uma rachadura na alma de ponta a ponta, um tormento proibido, um mar que balança despejando sobre a orla ondas bravias, um cérebro que ofusca-se e ensaia como seria dar ouvidos a uma voz do coração. E desse ensaio, vem o susto!
E nesse susto revela-se algo que não poderiamos mais enxergar se as névoas dos sentimentos já tivessem cegados nossos olhos. Sorte. Porque ainda é possível ver. E eu vejo. E ainda vejo com inexorável lucidez. E porque vejo, penso. E porque penso, enxergo a dimensão dos meus atos. E assim como eu sou livre e posso agir, posso também abster-me de qualquer prática. Sou livre, porque minha Razão assim me diz que sou. Razão, minha amiga adorada, sem a qual eu não seria ninguém. Entra e dissolve a névoa de idéias, restaura o equilíbrio e fortalece novamente os sentidos para ver o que pode ser visto, o que deve ser visto, o que é preciso ser visto. Cega meus olhos para aquilo que não devo enxergar com a mente. Porque se enxergo com a mente, é porque o conceito, a idéia, a vontade existe no coração. E se existe no coração, há uma outra de mim em luta comigo. E cansa. Lutar comigo cansa. E eu não quero gastar minha energia na luta. Por isso, invoco sempre a Razão, que luta por mim. E nunca houve uma única vez em que ela deixasse de me socorrer. Soberana. Maior do que eu apenas porque eu mesma resolvi dar ouvidos a ela. Do contrário, ela não seria soberana. A loucura seria. E me faria louca.